Acordei com Andressa
dizendo que o Victor estava pior. Tentei obrigá-lo a comer
alguma coisa, mas ele começou o vomitar. Ele foi piorando em
questão de minutos e eu já não sabia o que
fazer. Lembro-me dos meus gritos: “Andressa, pega o balde por que o
Victor vai vomitar!”.
Comecei a ligar pra
todo mundo que eu conhecia. Aline, Gisele, Maluquinho... Até
que Gisele chegou aqui. Victor ligou pra mãe dele e começou
a chorar no telefone. Todos em volta com pena dele, quase cedendo as
vontades dele, inclusive a de deixar ele dormi. Eu fui um pouco ruim.
Gritei, berrei, dei ordens, mas não o deixei satisfazer as
suas vontades.
Eu não queria
levá-lo no mesmo hospital que fomos ontem. Já sabia que
nada seria resolvido. Pensamos também em levá-lo para
um particular, mas não tínhamos dinheiro o suficiente.
Até que Gisele lembrou de um amigo da igreja que trabalha de
segurança no Hospital Moacyr do Carmo. Depois de algumas
ligações, decidimos que o levaríamos para lá.
Charles nos levou de
carro, por que ele não tinha a menor condição
de ir andando. Durante a viagem, eu fui comendo ensopado de batata
com lingüiça que tinha colocado dentro de um copo.
O hospital não
era bom, mas muito melhor que o anterior. O nome do amigo da Gisele
era Osmar e ele foi uma grande ajuda. Atenderam o Victor com
prioridade e graças a Andressa ainda fizeram uma endoscopia
nele, onde descobriram que a úlcera havia mesmo se complicado
e ele estava sangrando por ela. Ele já saiu da sala do exame
direto para a internação. Chorou um pouco dizendo que
não queria ficar, mas como eu mesmo disse, ele não
tinha querer.
Eram 16h00 quando eu e
Andressa saímos do hospital. Como eu ainda tinha que ir pra
faculdade, pegamos um ônibus pra Central e depois o metrô.
Eu e meu grupo
precisamos terminar o seminário que apresentaremos na semana
que vem. Decidimos nos encontrar na casa da Bárbara no
domingo.
Voltando pra casa,
encontrei Ana Rosa no caminho e acabei convencido de voltar de trem
com ela. Já na porta do trem, ela decidiu que iria pra Caxias
e eu vim de trem sozinho.
Comecei a ler minha
revista e desatento, passei da estação que devia
descer. Fui parar na última estação e não
tinha mais trem voltando naquele horário. Desci e procurei um
ônibus que acreditei que fosse me deixar perto de casa. O
ônibus era errado e fui parar em um lugar que não faço
a menor idéia da onde seja. Graças a Deus um homem
estava lotando uma kombi em direção à via show e
eu entrei nela.
Fique um tempo na sala
conversando com Vilma a respeito do novo cargo que ela está
exercendo na empresa em que trabalha. Um tempo depois, Gisele me
ligou pra dizer que estava no portão com o Charles e eu fui
até lá.
Estava contando pra
eles os detalhes do dia quando Andressa ligou pra dizer que já
estava chegando e fomos até o ponto de ônibus buscá-la.
Recebi um ótimo
e-mail do meu psicólogo. Ajudou-me a pensar em muitas coisas.
Eu não posso
dizer que já não sofro mais, estaria mentindo. Mas eu
posso afirmar que fica menos pior a cada dia que passa. Ainda estou
longe do dia em que vou comentar sobre tudo isso sem me machucar, mas
estou mais próximo do que já estive um dia.
Volte sempre... Até!
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Comentário da
Foto: Hoje andando pelo centro da cidade com minha amiga Andressa, vi
inúmeros desabrigados em péssimas condições
bem no meio de uma calçada. Já era fim de tarde e
dezenas, talvez centenas de pessoas andavam com pressa de um lado
para o outro. Fiquei com pena das pessoas que estavam ali sem pressa,
sem luxo, com fome e sujas. Comecei a pensar em como o mundo em que
vivemos é cruel, até que me deparei com um casal bem no
cantinho. Eles estavam deitados sobre um papelão e cobertos
por um cobertor. Ela acariciava a orelha dele e ele brincava com o
nariz dela. Os olhos deles tinham um brilho especial. No meio da
brincadeira ele a beijou e um belo sorriso tomou o rosto dela. Eu vi
amor ali. Eles não tinham nada, mas tinham tudo. Muitas das
dezenas ou centenas de pessoas que passavam por ali, muito
provavelmente, não sentiam o mesmo.
Paramos e observamos
por alguns segundos. Foi tão comovente que a Andressa
comentou: “Isso é tudo o que eu queria!”
Depois eu fiquei
pensando. Eu não sei como eles foram parar ali, mas
independente disso, eles tinham todos os motivos do mundo pra viver
uma vida infeliz. Nada do que eles estão passando foi capaz de
destruir a felicidade e o amor que eles estavam transparecendo.
Um dia desses, afim de
afastar meus problemas da mente, eu postei aqui no blog a teoria de
uma amiga da faculdade. Ela diz que se eu imaginar a figura de uma
maçã e sempre que vier algum outro pensamento eu voltar
a focar na maçã, chega um momento em que consigo pensar
apenas na maçã.
Hoje meu psicólogo
me enviou um e-mail maravilhoso. Em um dos parágrafos, ele
dizia o seguinte: “este conto fala de 3 ou 4 personagens...
que estão no meio de uma aventura... desbravando uma floresta
desconhecida... muitas coisas acontecem... um deles tem
medo do que está vendo, e acaba tapando os olhos, e fica
melhor pq acredita que aquelas imagens estranhas não existem
mais. Outro que tb teve medo dos sons, acabou tendo uma ideia para
resolver este problema, e tapou os ouvidos, pq pensou que assim, não
ouvindo, eles não existiam...”
Seria possível
aquele casal tapar os olhos e ouvidos pra tudo o que acontece na
atual floresta em que estão vivendo? Assim como as outras
inúmeras pessoas que ali habitavam, eu acredito que não.
Em anexo, meu psicólogo
me enviou a imagem de uma maçã e quase no fim do texto,
duas perguntas. Eu fiquei pensando um pouco e concluí o
seguinte:
A maçã
será ótima. Eu vou parar pra pensar nos meus problema
olhando pra ela. Eu preciso entender que a vida é curta
demais. A cada minuto que eu passo triste, são 60 segundos de
alegria desperdiçados.
Eu não tenho
tapado e nem bloqueado os pensamentos que me levam ao meu problema.
Entretanto, eu venho querendo abstraí-los, às vezes eu
tento até alimentá-los com ilusões que não
podem ser trazidas para mundo real.
Depois disso, eu só
tenho que concordar com o Wolverine: “A melhor defesa é o
ataque!” Já chegou a hora de atacar meus problemas.
Nada acontece por acaso
e ninguém é escolhido pra carregar uma cruz que não
seja capaz de carregar. Ainda assim, muitas pessoas empacam no
caminho e dizem não conseguir mais andar. Algo me diz que tudo
isso é só o começo e que o melhor ainda está
por vir.
Eu queria ter a
oportunidade de dizer para aquele casal que eles são
fantásticos e que a floresta deles é encantada sim!
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